segunda-feira, 9 de abril de 2018

O mistério dos juros

Por Eden Jr.*
Se tem uma área do governo Temer que é considerada, por especialistas, quase unanimemente como exitosa é a monetária. Seja em razão da competência do presidente do Banco Central (Bacen), Ilan Goldfajn, e de sua equipe, seja pela ainda drástica crise econômica, que facilitou a redução dos juros, é inegável o sucesso do manejo da Selic (a taxa de juros básica na economia). Desde outubro de 2016, quando o Bacen iniciou o atual ciclo de diminuição da taxa de juros, que nessa época estava em 14,25% a. a., até o dia 21 de março, quando se encerrou a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Bacen, e que rebaixou os juros para 6,5% a.a. (o menor nível da história), a Selic experimentou forte queda.

Na reunião de março, para surpresa de muitos, ficou a indicação de que os juros podem sofrer nova queda no próximo encontro do Copom (marcado para os dias 15 e 16 de maio) e mergulharem para 6,25% ou até mesmo para 6%. Na comparação mundial também melhoramos. Em outubro de 2016, éramos os “campeões” mundiais de taxa de juros real (descontada a inflação), com 8,49%, superando Rússia (4,27%) e Colômbia (3,61%). Agora, ocupamos o quinto lugar em escala planetária, com juros reais de 2,89%. A “campeã” é a Argentina (6%), seguida pela Turquia (5,3%) e pela Rússia (3,6%) – dados de juros reais da MoneYou/Infinity Asset Management.
O principal “motor” para a queda da Selic vem sendo o comportamento muito satisfatório da inflação, que fechou 2017 em 2,95%. Segundo previsão do mais recente Relatório de Mercado Focus elaborado pelo Bacen – que congrega a opinião das principais instituições financeiras do país – a inflação deste ano deve ficar em 3,45%, para 2019 a expectativa é que o índice seja de 4,08%. Números muito cômodos para o Bacen, que mediante a manobra da taxa Selic, tem o objetivo de levar a inflação do país para 4,5% este ano e 4,25% em 2019 (em ambos os anos o BC conta com uma margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo).
A maior responsável por manter a inflação bem-comportada, é, lamentavelmente, a insegura recuperação da economia brasileira, que cresceu somente 1% no ano passado, e deve expandir-se 2,9% neste ano e 3% em 2019 – novamente de acordo com o Focus. Na atual circunstância, a lógica usada pelo Banco Central, na manipulação da Selic, é que quanto menor forem a inflação e o crescimento da economia, maior poderá ser a redução dos juros. Isso para tornar os empréstimos mais baratos, as aplicações financeiras menos atrativas e encorajar o consumo, a tomada de financiamentos e o investimento de recursos em novos negócios, para assim tentar ativar a econômica.
Só que há um mistério a embaralhar a clássica estratégia do Bacen para impulsionar a nossa retomada: os consumidores finais não sentem a queda da taxa de juros. Ou seja, apesar dos esforços da autoridade monetária, quem vai tomar um financiamento para comprar uma geladeira, por exemplo, não percebe a diminuição dos juros. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), enquanto de outubro de 2016 até o final de março a Selic caiu 54,4%, os juros do cheque especial declinaram somente 4,8%; os do comércio, 9,8%; os do empréstimo pessoal, 12,7% e os do cartão de crédito, 30,5%. E outra, essas modalidades de empréstimos estão cobrando, respectivamente, juros anualizados de 297%, 88%, 63% e 317%, enquanto que a Selic anual está, como dito, em 6,5%.
Há algumas tentativas para explicar essa discrepância entre a Selic e os juros cobrados do consumidor final. Mas nenhuma delas, nem de longe, é suficientemente convincente para não levar a se crer, que o sistema financeiro está tendo lucros exorbitantes no atual cenário. Entre as razões, têm-se: o risco da inadimplência, já que com o desemprego alto, na casa dos 12,6%, parte das pessoas tem mais dificuldade de honrar seus compromissos; a pouca competição entre os bancos, o setor bancário brasileiro é um dos mais concentrados do mundo, e a elevada carga de impostos que incide sobre as operações bancárias.
Grandes bancos como Santander e Bradesco estão “otimistas” e confiam que, agora, os juros vão cair para o tomador final. Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco, afirma que a regulação pelo Congresso do cadastro positivo – que possibilita cobrar juros mais baixos daqueles que têm histórico de bom pagador – é um importante mecanismo para ajudar na redução. Ilan Goldfajn, presidente do BC, espera que o aumento da competição bancária; a aprovação da Taxa de Longo Prazo para os empréstimos do BNDES; as mudanças no empréstimo rotativo do cartão de crédito e a criação da garantia eletrônica levarão à redução dos juros. A despeito do otimismo de Goldfajn, o consumidor só acreditará na queda de juros quando perceber a diferença no momento em que for financiar um veículo ou uma TV.
*Doutorando em Gestão do Desenvolvimento, Mestre em Economia Economista e Economista (edenjr@edenjr.com.br)

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