Enfim, temos uma rodoviária, para muitos não é nada, para mim é tudo, e minha cidade tinha que ter:
Um belo cais, para ver o pôr do sol, estádio para me deliciar em belos lances de futebol e como em minha cidade, passa uma das maravilhas do Brasil, que é o Rio Tocantins, teria que ter uma ponte. Imperatriz precisava também, de uma rodoviária e hoje temos, não é tão bela como queria, mais é confortável e prática.
Os Pobres na Estação Rodoviária
|
Os pobres viajam, Na estação rodoviária eles alteiam os pescoços como gansos para olhar os letreiros dos ônibus. E seus olhares são de quem teme perder alguma coisa: a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco que tem a cor do frio num dia sem sonhos, o sanduíche de mortadela no fundo da sacola, e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos. Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus eles temem perder a própria viagem escondida no névoa dos horários. Os que dormitam nos bancos acordam assustados, embora os pesadelos sejam um privilégio dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas em consultórios assépticos como o algodão que tapa o nariz dos mortos. Nas filas os pobres assumem um ar grave que une temor, impaciência e submissão. Como os pobres são grotescos! E como os seus odores nos incomodam mesmo à distância! E não têm a noção das conveniências, não sabem portar-se em público. O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado que do sonho reteve apenas a remela. Do seio caído e túrgido um filete de leite escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram malas e embrulhos, fazem perguntas descabidos nos guichês, sussurram palavras misteriosas e contemplam os capas das revistas com o ar espantado de quem não sabe o caminho do salão da vida Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas, esses amarelos de azeite de dendê que doem na vista delicada do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos, e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá? Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se. Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto embora alguns deles possuam até televisão. Na verdade os pobres não sabem nem morrer. (Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.) E em qualquer lugar do mundo eles incomodam, viajantes importunos que ocupam os nossos lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.
Autor desconhecido |
Nenhum comentário:
Postar um comentário