É hoje o Dia do Vira-Lata. Barcelona 8×0 Santos. Vamos festejar latindo.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Vamos lamber nossas feridas, rosnar nossa fome mirando a mesa alheia.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Vamos nos voltar para a lua, chorar a nossa origem, desejar que fosse possível dar um outro giro na roda do tempo.
É hoje o Dia do Vira-Lata: Eugenio Mena, Léo Cittadini, Pedro Castro, Rafael Galhardo. De pouco vale se o Santos, o Santos imenso, é hoje um catado de jogadores com nomes de engenheiro. É hoje o Dia do Vira-Lata.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Só que, por hoje, o regime é outro: os cretinos tomaram conta do canil. Não querem razões, só querem recontar o 8×0, convertê-lo em 16×0, 32×0, 64×0 na cesta básica de cada brasileiro, numa progressão geométrica que só engrandece o outro.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Quem buscava evidências da superioridade do tiki-taka sobre qualquer criação cultural brasileira, do artesanato rupestre ao Grande Sertão Veredas, enfim dorme em paz. “Era apenas um amistoso”, dirão os cautelosos. “Era a verdade em campo”, dirão os exultantes.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Ficará esquecida a verdade militar-esportiva de que não vale ser melhor, mas ganhar – e que, sim, times brasileiros podem vencer o Barcelona. Ninguém lembrará de Adriano Gabiru, autor do gol redentor do Inter no Mundial de 2006 e Clausewitz involuntário das guerras assimétricas. Para os filisteus do presente, hoje não há passado.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Muitos serão franciscanos sem fé, e farão jus à caricatura rodrigueana. “Ganirão humildade”, vão se “colocar em inferioridade, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
É hoje o Dia do Vira-Lata. O Campeonato Brasileiro vai ser pintado com o marrom da várzea. As glórias, os talentos e as virtudes serão todos desmentidos por um “bona nit”, um “boa noite” em catalão.
É hoje o Dia do Vira-Lata. Ainda bem que passará.
Do blog Chuteira Preta
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