domingo, 19 de fevereiro de 2017

Maria do Rosário, a mulher mais polêmica da Terra

Por que a deputada Maria do Rosário atrai tantas polêmicas Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr/ABr
Para Rosário, defender os direitos humanos significa dar rosto e voz para quemFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr / ABr 
No começo do ano, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) decidiu contratar uma consultoria para monitorar o que andam dizendo dela. A empresa passou a realizar todos os meses uma varredura em emissoras de rádio, em canais de TV, em jornais e na internet. O levantamento mais recente foi feito em março. Identificou 7.628 menções ao nome da parlamentar. A análise do conteúdo trouxe dados alarmantes. A esmagadora maioria dos comentários – 5.286 – eram de teor negativo. Apenas 363, o equivalente a 4,76%, traziam opiniões positivas. Em fevereiro, o índice havia sido ainda pior: 3,25% de aprovação.

Para quem marca presença nas redes sociais e acompanha as caixas de comentários dos sites jornalísticos, esses números não chegam a ser uma surpresa. Encontrar ataques à deputada gaúcha, alguns deles pesados, incorporou-se à rotina de navegar pela web. Nos últimos anos, Maria do Rosário tornou-se uma personagem para a qual parece convergir a rejeição – e em muitos casos o ódio – de uma parcela da sociedade brasileira.


O episódio mais recente desse fenômeno deu-se no sábado passado, quando a ex-ministra foi apanhada pela Operação Balada Segura sem a documentação do carro e teve o veículo retido. Submeteu-se ao bafômetro, reconheceu publicamente que havia errado e elogiou a blitz. Alguns aplaudiram-na, mas largos setores da web aproveitaram o deslize para atacar. "Essa senhora é uma hipócrita e demagoga. Defende bandidos, assassinos, criminosos. Vota sempre contra qualquer projeto bom para o Brasil", escreveu um internauta, no site de Zero Hora.

O estigma é de tal monta que acaba por atingir até quem se vê, por um motivo ou outro, associado a ela. Há duas semanas, em entrevista a ZH, o humorista Jair Kobe, o Guri de Uruguaiana, revelou ter sido alvo de cobranças por aparecer em uma foto com a então ministra dos Direitos Humanos. A imagem foi feita durante um evento de combate à violência contra crianças e adolescentes, causa apoiada pelo artista. 

Dias atrás, foi a vez do jornalista Moisés Mendes. Ele publicou em ZH uma crônica sobre o episódio do Balada Segura: "Ninguém foi mais malhado na internet no fim de semana do que Maria do Rosário. Ela já é alvo do Bolsonaro, dos homofóbicos, dos que defendem prisão perpétua para adolescentes infratores e dos adoradores da ditadura. Agora, imagine, andava sem os documentos do carro! É o fim do mundo", registrou Moisés. Maria do Rosário compartilhou o texto e vaticinou que o colunista viraria alvo dos que a atacam. Não deu outra. Moisés recebeu várias críticas. Um engenheiro agrônomo ecoou o pensamento mais frequente: "Essa senhora desperta o ódio das pessoas, e olhe que eu estou me referindo ao povo comum e também a muitos agricultores com os quais eu convivo, justamente por suas posições em defender bandidos".

Essa é uma acusação que ronda Maria do Rosário desde os anos 90, quando presidia a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Na época, ela costumava ser chamada para ajudar nas negociações com presidiários ou menores infratores, durante motins e rebeliões. A deputada afirma que envolvia-se nessas situações a pedido da Brigada Militar, com o intuito de auxiliar na libertação de reféns. Para os críticos, ela estava lá para defender os bandidos.

Em 2002, Maria do Rosário elegeu-se deputada federal na condição de campeã de votos entre os gaúchos. Levando as mesmas pautas para o cenário nacional, transformou-se em pouco tempo no nome mais visível da militância pelos direitos humanos no Brasil, o que se consolidou a partir de 2011, quando tornou-se ministra responsável pela área no governo Dilma. Associou-se a causas como a reserva de cotas para negros, a concessão de direitos a homossexuais, o combate à violência praticada por policiais e a punição de crimes cometidos durante a ditadura militar. Essa linha de ação granjeou-lhe popularidade em alguns segmentos, mas levou outros setores, por motivos ideológicos ou religiosos, a ver nela o inimigo.

Para vários observadores, estaria nessa linha de ação a origem das críticas a que Maria do Rosário passou a ser submetida. Ex-deputado estadual e federal pelo PT, o também militante dos direitos humanos Marcos Rolim diz que ainda hoje, mais de uma década depois de seu último mandato, ainda recebe todos os dias agressões e ameaças pela internet.

– Por ter se vinculado ao tema dos direitos humanos, a Maria do Rosário é de certa forma o para-raio das redes. Eu me solidarizo com ela. É uma vítima da intolerância – afirma Rolim.

No Brasil, dizem alguns analistas, as bandeiras levantadas pelos defensores dos direitos humanos não são consensuais. Em um país assolado pela criminalidade, ser contra a redução da maioridade penal, defender que presidiários têm direitos e condenar a violência policial vai contra o pensamento de amplas parcelas da sociedade. A defesa dos homossexuais, por outro lado, choca adeptos de diferentes igrejas.

– Os direitos humanos são muito mal entendidos no Brasil. Aqui temos um discurso de que bandido bom é bandido morto, de que criança na cadeia é bom. A impressão que eu tenho é que o sentimento da população é de vingança, não de justiça. Acho que a Maria do Rosário sofre porque é a figura mais lembrada quando se fala em direitos humanos no Brasil  – avalia a cientista política Céli Pinto, da UFRGS.

Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e um dos decanos da causa no Brasil, afirma que a associação entre a militância nessa área e a defesa de bandidos é um resquício do regime militar. Segundo ele, foi a estratégia usada pelos apoiadoras da ditadura para desacreditar os que denunciavam violações. No entanto, Krischke acredita que são fragilidades da própria Maria do Rosário que a tornam um alvo preferencial de ataques:

– Isso talvez se deva a uma certa inabilidade da parte dela. A deputada é muito mais estridente, muito mais barulhenta, do que consistente. E os argumentos têm de ser consistentes, não estridentes. Talvez seja isso. Quem defende direitos humanos sabe que se expõe e que precisa ter cuidado. Cada ação tem de representar algum avanço. Não é para fazer votos, é para defender uma causa. Na ação dela, às vezes isso se confunde. Mesmo não sendo, pode parecer um proselitismo eleitoreiro. 

Um dos episódios onde Krischke enxerga inabilidade é no rumoroso incidente com o deputado do Rio Jair Bolsonaro . Para o presidente do MJDH, Bolsonaro é um "provocador desprezível" com quem é absurdo discutir. Ao fazê-lo, Maria do Rosário teria oferecido um palco para o defensor da ditadura brilhar.

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