O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, em uma carta divulgada no hospital em que está internado para uma cirurgia, a indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato à Presidência da República em 2026.
No texto, Bolsonaro diz que a decisão é “consciente e legítima”, fala em “continuidade” e cita batalhas que estaria enfrentando. Ele está preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, cumprindo pena por tentativa de golpe de Estado.
“Diante desse cenário de injustiça, e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar o Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República em 2026”, diz Bolsonaro na carta.
A carta foi lida por Flávio na porta do hospital DF Star, onde Bolsonaro está internado para passar por uma cirurgia para correção de hérnia inguinal bilateral nesta quinta-feira (25), dia do Natal.
O senador afirmou que a divulgação do texto tem o objetivo de encerrar dúvidas sobre a decisão de Bolsonaro de indicá-lo para disputar a Presidência em 2026. O anúncio anterior havia sido feito por Flávio no dia 5 de dezembro e confirmado pelo PL, provocando resistências em grupos políticos próximos do ex-presidente e até em sua família.
“Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim”, escreve o ex-presidente.
Bolsonaro diz ainda que Flávio representa “a continuidade do caminho da prosperidade” que teria sido iniciado antes mesmo de se tornar presidente. “Acredito que precisamos retomar a responsabilidade de conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro”, afirma.
Flávio Bolsonaro afirmou que a carta escrita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e lida por ele pouco antes da cirurgia “retira qualquer sombra de dúvida” sobre sua pré-candidatura à Presidência em 2026 e cobrou unidade da direita, em um momento em que partidos do Centrão ainda resistem a fechar apoio ao projeto político do bolsonarismo.
“Como muitas pessoas dizem que não ouviram da boca dele, acho que isso aqui retira qualquer sombra de dúvida. Para mim não muda nada, mas para quem ainda não estava acreditando pode ser que mude”, disse o senador. “Espero que a gente se una. Temos que buscar neste momento a unidade para alcançar esse objetivo em comum de evitar que o PT destrua nosso país”.
Intitulada “Carta aos Brasileiros”, a declaração mistura um balanço pessoal do período pós-Presidência com um gesto político de sucessão. Logo na abertura, Bolsonaro afirma ter enfrentado “duras batalhas”, “pagando um preço alto, com minha saúde e família”, para defender o que considera “o melhor para o nosso Brasil”. Sem citar diretamente a condenação na trama do golpe, ele classifica o momento atual como um “cenário de injustiça”.
É nesse contexto que o ex-presidente afirma não permitir que “a vontade popular seja silenciada” e anuncia que torna pública sua “disposição de indicar o futuro brasileiro como pré-candidato à Presidência da República em 2026”.
Ao justificar a decisão, Bolsonaro afirma que Flávio foi escolhido para a “missão de resgatar o nosso Brasil”, por meio de “uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar os princípios daqueles que caminharam comigo”. Em outro trecho, sustenta que o senador representa a continuidade de seu projeto político, ao afirmar que ele é “a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei bem antes de ser Presidente”.
A carta também reafirma valores centrais do bolsonarismo. Bolsonaro escreve que o país precisa “retomar a responsabilidade de conduzir o Brasil com justiça, firmeza e coragem”, em consonância com “os valores do povo brasileiro”. O texto se encerra com uma invocação religiosa, ao pedir que Deus “o abençoe e o capacite na liderança dessa corrente de milhões de brasileiros que honram a Deus, a pátria, a família e a liberdade”.
Nas últimas semanas, Flávio vinha trabalhando pela divulgação de uma declaração de viva voz de Jair Bolsonaro em relação à pré-candidatura. Nos cálculos do senador, esse gesto seria feito em uma entrevista ao portal Metrópoles, no dia 23 de dezembro, que foi cancelada horas antes de ocorrer.
A desmarcação da entrevista foi influenciada por uma resistência dentro do próprio entorno do ex-presidente, segundo informou a colunista Mônica Bergamo. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e advogados de Bolsonaro se posicionaram contra a iniciativa, por avaliarem riscos jurídicos e políticos no momento atual.
A carta é vista por aliados de Flávio como uma alternativa para levar a público a palavra de Bolsonaro e desestimular movimentos políticos para evitar a consolidação de seu nome como pré-candidato.
Partidos do centrão, empresários e integrantes do mercado financeiro ainda trabalham pela construção de uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Esses grupos preferem seu nome ao de Flávio e temem que índices de rejeição ao senador possam levar a direita a uma derrota em 2026.
Flávio, por sua vez, diz avaliar que o sobrenome Bolsonaro representa uma vantagem nas urnas, e tenta divulgar seu próprio nome como uma versão moderada do pai. O apoio declarado do ex-presidente seria uma maneira de deixar claro ao eleitorado bolsonarista que não há alternativas em construção.
Bolsonaro está pronto para ser submetido à cirurgia. A equipe médica avaliou que o político está apto para ser submetido ao procedimento, que tinha previsão de início às 9h e duração de cerca de quatro horas. A estimativa inicial é que ele fique internado de cinco a sete dias para acompanhamento após a cirurgia.
Bolsonaro saiu pelos fundos da unidade da PF na quarta-feira (24) e, por volta das 9h30, foi escoltado por um comboio até o hospital, em um trajeto que durou cerca de cinco minutos. O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a realização da cirurgia para correção de hérnia inguinal bilateral.
Hérnia inguinal é uma condição em que um tecido do abdômen incha e faz aparecer uma protuberância na região da virilha. Além da cirurgia de correção da hérnia, os médicos avaliam submeter Bolsonaro a um procedimento anestésico, com bloqueio do nervo frênico, para controlar as crises de soluço, no começo da próxima semana.
“Depois dessa cirurgia de hérnia a gente vai reavaliar essa situação e ver se convém fazer esse bloqueio anestésico, que é um procedimento relativamente seguro, mas que não é o padrão para o tratamento de soluço. Precisa ver realmente se isso justifica o benefício, o risco”, disse o cirurgião Claudio Birolini.
Segundo ele, a cirurgia de hérnia tem algum grau de complexidade, mas baixo índice de morbidade. Ela deve durar de 3 a 4 horas, e a previsão é que Bolsonaro fique internado entre cinco e sete dias, a depender da evolução do quadro.


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