Não chegar como favorito era uma novidade para Usain Bolt. Por mais que tivesse a torcida a favor, por mais que tivesse o mais vitorioso histórico de um velocista, os números não mentiam. Desta vez, Justin Gatlin estava mais rápido, estava sobrando nas provas. Mas lendas não surgem à toa, não se sustentam em vão. No Ninho do Pássaro, palco em que há sete anos se firmou como o homem mais rápido do planeta, o jamaicano voou como nunca. Não teve margem, não teve folga nem recorde, mas teve a certeza de que ainda é o cara a ser batido. Com 9s79, Usain Bolt deixou o americano, as dúvidas e desconfianças para trás e sagrou-se tricampeão mundial dos 100m. Estampou um sorriso que refletia um alívio descomunal, do tamanho de sua grandiosidade nas pistas de atletismo.
- Definitivamente foi minha prova mais difícil. A temporada inteira foi dura, com Justin correndo muito bem, sendo rápido. Eu sabia que não seria fácil. Estou feliz que consegui, estou orgulhoso. Eu nunca duvidei que poderia. Como um atleta top, se você duvidar de você mesmo, já perde a corrida. Eu nunca duvido, conheço minha habilidade. Não foi uma corrida perfeita, mas consegui e fiz acontecer - celebrou Bolt
O resultado da noite deste domingo (horário da China) mostra como Bolt cresce nos momentos decisivos, nas grandes competições. Até esta final, o Raio havia acumulado tropeços. Literalmente. Se ao longo do ano somou resultados fracos e só baixou da casa dos 10s na etapa de Londres da Diamond League, nas semifinais deste domingo o jamaicano quase caiu.Atrapalhou-se logo após a largada e precisou fazer uma prova impressionante de recuperação na mais forte das baterias classificatórias. Incrivelmente, fez 9s96 e avançou à final com a melhor marca da tomada de tempo.
Bolt vence Justin Gatlin no detalhe e segue com o rei das provas de velocidade (Foto: Reuters)
Gatlin, por outro lado, voava. Acumulou os quatro tempos mais rápidos do ano antes de pisar em Pequim. No Ninho do Pássaro, sobrou nas eliminatórias mesmo iniciando a freada cerca de 20 metros antes da linha de chegada. Nas semifinais cravou 9s77, tempo que lhe daria o título mundial em todas as edições do campeonato, exceto 2009, quando Bolt estipulou o ainda vigente recorde mundial de 9s58.
O esporte, no entanto, não é uma ciência exata. Está aberto a exceções e surpresas constantes. A primeira delas veio logo na classificação dos finalistas. Empatados com 9s99 nas eliminatórias, Andre de Grasse, Jimmy Vicault e Bingtian Su passaram para as semifinais pelo tempo de classificação – a organização não divulgou os milésimos de cada um. Com isso, a final masculina teve nove atletas pela primeira vez na história.
No estádio, os chineses não escondiam a torcida por Bolt. O telão passou o vídeo da final de 2008, quando ele sagrou-se campeão olímpico pela primeira vez. Durante a apresentação dos atletas, as câmeras focaram nele mais do que em qualquer outro atleta, mostrando suas caras e bocas. Bolt tentava disfarçar qualquer sinal de tensão ou medo com sua habitual descontração.
Bolt conquistou o ouro em um dos momentos mais importantes de sua carreira (Foto: Reuters)G1
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