A rotina diária é sempre a mesma, acordar à noite, passá-la toda consumindo drogas, e quando o sol raiar, voltar a dormir. Dia após dia o script é o mesmo.
De passagem por São Paulo pude conferir de perto a região que chamam de cracolândia.

Para aqueles que não sabem o que significa, cracolândia foi o nome dado à região, no centro da capital paulista, onde pessoas de todas as idades se reúnem para consumir drogas, principalmente o crack, que hoje é a de maior espectro na sociedade brasileira, em todos os níveis sociais.
A região onde se aglomeram é bem central, próximo à estação Julio Prestes, à estação da Luz, à Igreja Santa Cecília, e outros pontos turístico e de circulação.
A região, durante o dia, é bem movimentada, muitos transeuntes, policiamento regular e dificilmente apercebe-se da presença maciça dos viciados. No entanto, com o passar das horas e a aproximação do período noturno todo o cenário vai se modificando.
Aqueles que estavam espalhados por todos os rincões da região, adormecidos em estado inerte, completamente entorpecidos, começam a acordar, e a se dirigir a uma rua específica.
Desde 2005, quando a prefeitura resolveu tomar atitudes de revitalização do bairro e higienização, os dependentes químicos procuram se reunir numa única rua. A finalidade é iniciar mais uma rotina de abuso de drogas. À noite já alta, por volta das dez horas, aquelas pessoas estão recém despertas, é o momento em que se encontram mais ativas e dispostas.
No entanto, esta definição está muito distante daquilo que entendemos por elas. Em contato direto podemos constatar que há muito a alma parece não habitar aqueles corpos. Seus rostos são idênticos, seus olhos semicerrados iguais, a imundície é a mesma. Sejam homens, mulheres, crianças, não importa, só podemos diferenciá-los pelas demais características humanas, pois não seria exagero compará-los a mortos-vivos.
Seus olhos não brilham, seus rostos não têm feições e nem expressões. Mal podem falar, parecem

apenas balbuciar, mal se sustentam sobre as pernas, se perderem seu ponto de apoio não têm reflexo para se manterem de pé, simplesmente caem. Rastejam…
Presenciar isso é chocante, dói, fere, incomoda. São pessoas que subvivem, põem no mundo crianças que já nascem dependentes químicas, vivem no mesmo ambiente, não se surpreendem com a sujeira e nem com a falta de pudores, não sabem o que é isso. Esperam apenas que mais uma noite se vá e que sua ânsia seja satisfeita. Não têm ambições, não sabem como seria viver diferente, não têm exemplos e nem esperam por eles. Seus pais? Alguns ainda têm mãe, outros já são órfãos, até de mãe viva, mas todos, invariavelmente, não sabem o que é o sentimento materno.
Esta realidade não é própria da cracolândia e da sociedade paulistana. A região é enorme, agrega centenas de pessoas, isso a deixa afamada, mas é a mesma realidade de todo país.
Nosso estado não fica pra trás, o crack, depois de todas as outras drogas, chegou à nossa sociedade, devastou e devasta os mais carentes, mas já vitima jovens e adultos de classes sociais mais altas e de nível de escolaridade maior.
Não fechemos os olhos para essa situação. Políticas públicas são essenciais, mas o engajamento social de prevenção junto a seus filhos e amigos é de primordial importância.
Palavras ao vento


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