No mês passado, Bento XVI aderiu à Idade do Twitter. Com seu anúncio nesta segunda-feira (não pelo Twitter), ele será o primeiro papa a renunciar desde a Idade Média. Os ritmos do mundo atropelam os ritmos do Vaticano. Os mundos colidem no Vaticano. Sem banalizar as coisas, como exemplo, lembro que o papa não gosta de Harry Potter.
A palavra usada nos momentos que se seguiram ao anúncio de renúncia do papa de 85 anos foi surpresa. Mas, de certa forma, havia um senso de antecipação de que o papado de Bento XVI não iria durar mundo. Na verdade, não veio para durar muito.
Em 2011, o Vaticano precisou desmentir que o papa renunciaria após completar 85 anos de idade em abril de 2012. Na verdade, seu mandato de oito anos foi transitório e assolado por estes vários desafios da modernização (marcados pela secularização na velha Europa da velha Igreja) e com o Vaticano tragado por variados escândalos (pedofilia, finanças, intrigas palacianas cada vez mais exibidas nesta Idade do Twitter e vazamento de informações).
Idade do Twitter demanda estrelas globais instantâneas, algo que não se coaduna com o acadêmico Bento 16, mas num estilo ensaiado (na forma) pelo antecessor João Paulo II. A Idade da Transição provavelmente termina com o fim do papado de Bento XVI em 28 de fevereiro.
O anúncio da renúncia foi na Semana do Carnaval. Um novo papa estará no trono de São Pedro por volta da Semana Santa, no final de março. Na minha fumacinha de especulações, será realmente a vez dos mercados emergentes no comando da Igreja católica. Basta ver que os novos seis cardeais (todos com menos de 80 anos, ou seja, com direito a voto no conclave, não são europeus, sinalizando para onde vai a Igreja, ao menos em termos demográficos e geopolíticos (outra história em termos teológicos e posicionamentos em geral da alta hierarquia da Igreja católica, devido ao conservadorismo aprofundado por Bento XVI, desde os tempos em que era o cardeal Ratzinger).
É verdade que o poder dos italianos na burocracia do Vaticano continua imenso. E este grupo quer o papado de volta para ele. Ironicamente, a última esperança de um papa liberal no lugar de Bento XVI era o cardeal Carlo Martini, que morreu em agosto passado. No entanto, basta dizer que na bolsa de apostas de quem será o sucessor de Bento XVI o favorito é o cardeal africano (de Gana), Peter Turkson, o futuro, com 64 anos de idade.
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