domingo, 21 de setembro de 2014

“Fruto de engenharia política que passou pelas minhas mãos”, diz Sarney sobre eleições e democracia

A transição para a democracia

Da Coluna do Sarney
Às dez horas, na noite de 14 de março de 1985, Aluízio Alves chamava-me ao telefone para dizer que Tancredo Neves tinha sido internado no Hospital de Base de Brasília. Faltavam apenas 12 horas para o momento em que devia prestar o compromisso constitucional, tomando posse no cargo de presidente da República.
Nunca pensei que a partir daquele momento o destino me entregasse uma página da História do Brasil num dos seus mais difíceis momentos.
sarneyFui ao Hospital e disse a Ulysses que não desejava assumir e esperaria o restabelecimento de Tancredo, por quem tinha grande admiração. Os acontecimentos tomaram outro rumo e coube-me presidir a transição democrática.
Quando vejo aproximar-se os 30 anos desse período e leio o livro do brasilianista Schneider dizendo que foi a mais exitosa das redemocratizações da América Latina, tenho a consciência de que prestei um grande serviço ao meu país. E hoje vejo os ventos da liberdade varrerem o Brasil e mais uma eleição tranquila, sem riscos institucionais, para presidente, governadores e casas legislativas. Lembro-me da imagem de Ruy Barbosa, do carvalho e da couve. O carvalho é definitivo, dura, como o cedro do Líbano, mil anos e a couve apenas semanas.
Plantei carvalhos e não couve. Nossa democracia é a segunda maior do mundo ocidental, com 141 milhões de eleitores, sólida, moderna na votação e na apuração sem riscos de fraude e desordem.
Comecei por criar o Ministério de Reforma Agrária – palavra maldita naqueles tempos. Legalizei os partidos que estavam na clandestinidade, inclusive o PCdoB, e por isso recebi o reconhecimento de João Amazonas, fundador e ícone do Partido, que também elogiou Roseana pelo que ela ajudou na legalização do PCdoB, que foi nosso aliado no Maranhão muitos anos, participando da “oligarquia”.
Tive a coragem de mudar a economia e não aceitar o modelo ortodoxo, saindo para o Plano Cruzado, que abriu caminho para que tivéssemos o Real.
Convoquei a Constituinte. Assegurei seu funcionamento. Eu sabia que as outras Constituintes brasileiras tinham dado em retrocessos institucionais. Fui o primeiro a jurar a Constituição.
Implantei os programas sociais que depois melhoraram e ampliaram, mas todos nasceram lá, a começar pelo combate a fome, com o Programa do Leite, considerado então pela Unesco o melhor do mundo. Oito milhões de litros de leite por dia eram distribuídos às crianças carentes.
Dei anistia a todos os sindicatos sob intervenção, legalizei as Centrais Sindicais, reconheci 1.269 entidades sindicais, e convoquei eleição para as capitais e municípios de segurança nacional.
Graças ao meu temperamento democrático, da tolerância, do diálogo, da compreensão, foi possível presidir e construir a transição democrática. Se hoje temos 26 anos de uma Constituição que assegurou liberdade e direitos sociais, tenho orgulho de ser grande responsável pelos resultados.
Por isso mesmo a festa democrática que o povo vive nestas eleições, e viveu nas passadas e viverá nas futuras, foi fruto de uma engenharia política que passou pelas minhas mãos. Sei que a História me faz justiça e tenho presente o provérbio chinês que “quando se vai beber água num poço não se deve esquecer quem abriu o poço”.

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