Um levantamento da Oxfam Brasil apontou que o Pará, o Amapá e o Maranhão lideram o ranking nacional da pobreza energética, uma condição que vai além da falta de eletricidade e reflete o acesso precário, inseguro e financeiramente inviável à energia para suprir necessidades básicas, como conservação de alimentos e conforto térmico.
O estudo, intitulado “Encruzilhada Climática – Um Retrato das Desigualdades Brasileiras”, evidencia que as desigualdades socioeconômicas e regionais tornam o Norte e o Nordeste as regiões mais afetadas pela crise energética no país.
Segundo o relatório, a pobreza energética é uma retrato da injustiça climática e revela como as desigualdades estruturais se manifestam no acesso à energia.
O fenômeno envolve não apenas a ausência de infraestrutura elétrica, mas também a incapacidade das famílias de arcar com custos de consumo que garantam qualidade de vida.
Curiosamente, a Região Norte concentra grande parte das hidrelétricas brasileiras, incluindo grandes empreendimentos como Belo Monte, no Pará, e Tucuruí, no mesmo estado.
Apesar dessa capacidade de geração abundante, a população local ainda enfrenta altos custos de eletricidade, especialmente em municípios isolados e desconectados do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Essa limitação gera instabilidade no fornecimento e altos custos de geração local, que recaem sobre famílias de baixa renda.
Na madrugada desta terça-feira (14), um apagão de grandes proporções atingiu os subsistemas de energia de todas as regiões do país. A ocorrência teve origem com um incêndio em um reator na Subestação de Bateias, no Paraná, a 30 km de Curitiba.
O Índice Multidimensional de Pobreza Energética, utilizado pela Oxfam para medir a vulnerabilidade, mostra que quanto maior o indicador, maior a carência energética, e os 3 estados aparecem nas primeiras posições.
O estudo também demonstra que, entre as famílias com renda de até um salário mínimo, o principal uso da energia está voltado à conservação de alimentos, que representa até 39% do consumo total. Apenas cerca de 10% é destinado à climatização de ambientes, item essencial em regiões de calor extremo.
Já nas faixas de renda mais altas, essa proporção se inverte: o uso de energia para refrigeração cai e o gasto com climatização sobe para até 30%.
Além disso, o custo elevado da eletricidade em áreas isoladas e a falta de equipamentos eficientes agravam o cenário de exclusão energética.
Famílias em situação de vulnerabilidade gastam uma parcela maior da renda com energia, o que reduz o orçamento disponível para alimentação e saúde, ampliando a insegurança alimentar e a pobreza multidimensional.
COP30 e os debates sobre soluções
A Oxfam destaca que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém, será um momento decisivo para discutir o enfrentamento das desigualdades climáticas e energéticas.
O evento deverá reunir países para debater o financiamento de ações voltadas à transição justa, o fortalecimento da adaptação nas regiões mais vulneráveis e o papel do Sul Global na construção de uma nova governança climática.
A expectativa é que a COP30 amplie o debate sobre justiça energética, cobrando dos países desenvolvidos compromissos efetivos de financiamento e cooperação técnica.
O relatório reforça que enfrentar a pobreza energética é essencial para assegurar direitos básicos e promover justiça climática.
No contexto amazônico, onde a riqueza natural contrasta com a exclusão social, o acesso à energia deve ser visto como uma prioridade para o desenvolvimento sustentável e equitativo, um tema que promete ganhar destaque nas discussões.
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